Todas e quaisquer ações educativas oferecidas a uma determinada pessoa, tão somente se firmam na oferta de ferramentas acompanhadas dos seus respectivos manuais de instruções ao seu uso. Esse discípulo que está em formação, para poder recebê-las, antes há de ter mãos próprias e apropriadas para apreendê-las; só assim, tornar-se-á apto para manuseá-las. Evidentemente, para compor a formação desse educando, externos à sua estrutura gênica há fatores que advém do meio adventício de onde ele provém; apesar da existência desses fatores não subjugar-se à vontade desse discípulo, os resultados das interações entre eles, são sentidos, interpretados, rejeitados ou apreendidos sob reações singulares desse aprendiz; a ser assim, com palavras diferentes, porém com os mesmos valores semânticos mantidos, seguramente, podemos afirmar que as nossas reações às influências que nos impinge o meio externo — o nosso habitat — invariavelmente, fundam-se naquele mesmo substrato genético inerente a quaisquer entes vivos que há; logo, tenhamos isto em mente: ainda no ventre materno, naturalmente, antes que fossemos dados à luz, o nosso processo de aprendizagem já se encontra sob influências epigenéticas recebidas nesse espaço — o intrauterino — primeiro espaço que se conforma com a definição de habitat; por ser esse meio provisório, importância menor não há de ter, pois, se por ele não passarmos bem, mal seremos conduzidos durante a nossa estada em nosso último e definitivo espaço, qual seja o meio onde nos encontramos ao lado dos nossos semelhantes com os quais nos interagimos na partilha de informações que sustentam as nossas vidas; essa sequência será necessária e contínua ao ente humano, e se estenderá até o seu último momento, antes que ele não mais possa sustentar o seu próprio corpo… A ser assim, esse ente, no decorrer de toda a sua existência, e a cada momento, julgando-se apto para tornar-se pessoa, haverá de encontrar ao seu dispor, ferramentas e matéria prima, que necessariamente, deverão ser postas ao seu alcance, para que ele tenha êxito na consecução do seu trabalho, ou seja, na consecução do seu autoprojeto, não obstante, esse desígnio inexoravelmente inacabado há de ficar, uma vez que desde a sua concepção, todo e qualquer ente humano está a ser, e em nenhum momento, deixará de fazê-lo…
E mais isto digo:
Se considerarmos que “não se pode mudar a natureza” — “Natura mutari non potest” — podemos repetir estas palavras de Platão: “Ninguém é mau por sua vontade, mas o mau torna-se mau por alguma depravada disposição do corpo e por um crescimento sem educação, e essas coisas são odiosas a cada um e lhe acontecem contra a sua vontade”; a ser assim, se validarmos essas palavras, admitidas poderão ser mais estas: “aquele que o bem pode aprender, apreender o mau se escusa… Com efeito, nenhuma pessoa à conta das suas próprias limitações, dar conta a outrem ninguém, não carece…”
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